Integrações com Outros Sistemas: Cuidados Essenciais, Retentativa, Logs de Erro e Eventos

Integrações entre sistemas são fundamentais em qualquer arquitetura moderna de software. No entanto, elas podem se tornar um ponto crítico caso não sejam projetadas e implementadas com cuidado. Neste post, vou abordar os principais cuidados para garantir a confiabilidade, a observabilidade e a resiliência das integrações, baseando-me em experiências práticas como programador sênior.


1. Planejamento e Arquitetura

Antes de começar a codificar, invista tempo em planejar:

  • Objetivo da Integração
    Entenda claramente se sua aplicação precisa enviar dados, receber dados ou realizar algum processamento externo.
  • Protocolos e Padrões
    Defina o tipo de comunicação: REST, SOAP, mensageria (RabbitMQ, Kafka, etc.). Cada abordagem tem vantagens e desvantagens em termos de latência, segurança e escalabilidade.
  • Segurança
    Avalie a necessidade de criptografia, uso de SSL/TLS, autenticação via OAuth ou tokens JWT.
  • SLA e Disponibilidade
    Alinhe SLAs (Service Level Agreements) com o outro lado da integração. Se o sistema externo for de terceiro, formalize esses acordos em contrato.

2. Estratégias de Retentativa (Retry)

Falhas acontecem por vários motivos: timeouts, erros transitórios, indisponibilidade temporária. Para lidar com isso, implemente uma estratégia de retry sólida:

  1. Backoff Exponencial
    Em vez de repetir a requisição em intervalos fixos, aumente progressivamente o tempo de espera (por exemplo, 1s, 2s, 4s, 8s) para evitar sobrecarregar serviços em falha.
  2. Limite de Tentativas
    Defina um número máximo de retentativas. Caso ultrapasse esse limite, registre o erro e tome outra ação (por exemplo, enviar para uma fila de erros).
  3. Diferencie Erros Transitórios de Erros Definitivos
    • Erros transitórios (ex.: falha de rede, timeout) podem ser contornados com retentativa.
    • Erros definitivos (ex.: credenciais inválidas) devem ser tratados imediatamente.
  4. Padrão Circuit Breaker
    Implemente um “circuit breaker” para interromper temporariamente as tentativas caso um número elevado de falhas ocorra em sequência, protegendo assim o sistema de sobrecargas.

3. Logs de Erro e Observabilidade

Ter visibilidade das falhas é fundamental para análise e correção rápida de problemas:

  • Centralização de Logs
    Use ferramentas como ELK Stack (Elasticsearch, Logstash, Kibana), Splunk ou equivalentes para armazenar e correlacionar os logs de diversos serviços.
  • Níveis de Log
    Utilize corretamente DEBUG, INFO, WARN, ERROR e FATAL. Evite poluir os logs de produção, mas garanta a existência de detalhes suficientes para investigar problemas.
  • Correlações e Traceability
    Em arquiteturas de microserviços, um traceId ou correlationId facilita rastrear o fluxo de uma requisição que atravessa vários serviços.
  • Logs Estruturados
    Formatos como JSON facilitam buscas e análises automatizadas, permitindo criar dashboards e relatórios em tempo real.

4. Eventos e Mensageria

Quando a natureza da integração não exige respostas imediatas ou quando o sistema externo pode ficar indisponível, arquiteturas orientadas a eventos oferecem benefícios:

  1. Fila ou Broker de Mensagens
    Ferramentas como RabbitMQ, Apache Kafka ou AWS SQS permitem gerenciar picos de requisições, persistir mensagens e processá-las de forma assíncrona.
  2. Garantia de Entrega
    Se for crítico não perder dados, opte por filas persistentes e configure mecanismos de redelivery (retentativas automáticas).
  3. Dead Letter Queue (DLQ)
    Em caso de falha após múltiplas tentativas, mensagens podem ser direcionadas para uma fila de erro (DLQ). Isso permite análise posterior e reprocessamento manual ou automático.
  4. Escalabilidade
    Produtores e consumidores podem escalar independentemente, oferecendo uma solução mais resiliente a picos de carga.

5. Idempotência e Consistência

Evitar duplicidades e manter dados consistentes entre sistemas é um desafio constante:

  • Idempotência
    Se a mesma requisição for enviada múltiplas vezes, o resultado precisa permanecer o mesmo. Use um identificador único por requisição (requestId) para garantir que cada operação seja processada apenas uma vez.
  • Detecção de Duplicidade
    Em integrações de alto volume, mantenha um registro de transações recentes para evitar processar duas (ou mais) vezes requisições idênticas.
  • Consistência Eventual
    Em sistemas distribuídos, pequenos atrasos na sincronização são comuns. Garanta que sua aplicação suporte esses atrasos, caso a consistência imediata não seja um requisito absoluto.

6. Gestão de Erros e Alertas

Além de registrar as falhas, é preciso reagir de forma adequada e no momento certo:

  • Alertas e Monitoramento
    Configure ferramentas de monitoramento (Zabbix, Prometheus, Datadog etc.) para enviar alertas caso a taxa de erros ultrapasse determinado limiar.
  • Dashboards
    Visualize em tempo real métricas como tempo médio de resposta (latência), taxa de sucesso/falha e status das filas.
  • Automação de Resposta
    Caso seja detectado um erro comum, processos automatizados podem ser executados (por exemplo, reiniciar um serviço ou limpar cache).

7. Testes e Ambiente de Homologação

Testar é fundamental para evitar surpresas em produção:

  1. Testes de Unidade
    Use mocks e stubs para simular o comportamento de serviços externos.
  2. Testes de Integração
    Tenha um ambiente de homologação ou sandbox para validar a comunicação real com o sistema externo.
  3. Testes de Resiliência
    Exercite falhas de rede, latência alta e indisponibilidades para avaliar a robustez da sua implementação. Ferramentas de chaos engineering podem ser muito úteis aqui.
  4. Testes de Carga
    Simule o volume esperado (ou maior) de requisições para identificar gargalos e otimizar recursos de infraestrutura.

8. Documentação

Por fim, mas não menos importante, documente todo o processo de integração:

  • APIs Externas
    Registre endpoints, formatos de dados, parâmetros e métodos de autenticação.
  • Fluxos Internos
    Utilize diagramas de sequência ou de eventos para ilustrar claramente o fluxo de dados entre serviços.
  • Políticas de Versionamento
    Se a API externa evoluir para uma nova versão, esteja preparado para conviver com múltiplas versões até concluir a migração.

Conclusão

Integrar sistemas de forma confiável vai muito além de simples requisições HTTP ou publicações em fila. É fundamental ter uma visão holística que inclua retentativas, logs robustos, observabilidade, mensageria e práticas de idempotência e monitoramento. Seguindo essas boas práticas, você reduz drasticamente o risco de falhas em produção e prepara o terreno para escalar suas integrações à medida que a demanda cresce.

Você já enfrentou desafios na hora de integrar sistemas? Compartilhe nos comentários suas experiências e as soluções que adotou!